Alguns minutos a seguir a Inês soube que tinha feito a escolha errada, tinha virado a página da vida dela para seguir caminho, mas sempre com a certeza de que a seguir a esta página viriam mais mil que o mantinham como se com ela ficasse até ao dia em que fossem para outro mundo. Ainda assim, fez-se passar por mais forte do que sempre tinha mostrado, tinha fingido que agora já não lhe interessava, que já nada lhe servia e que as palavras já não iam mudar nada.
Para facilitar, para não sofrer mais, para se esquecer de que algum dia podia ter tido esperança nele. Uma esperança rancorosa, porque já não estava nas mãos dela agarrar o que era visível aos olhos deles e de toda a gente. E se a partir do momento em que só fazia sentido ser ele a mostrar-lhe o que é verdadeiramente interessante e merece ser visto e amado, e ele não o soube fazer, já não podia fazer mais nada.
A verdadeira questão, foi aquela paixão tornar-se um jogo, um jogo que a Inês nunca gostou, que preferia passar à frente e deixar-se de enjoos e mesquinhices que só fazem perder tempo. Podia ter sido divertido, podia ter sido menos do que sempre pensou, ou até mais do que tinha pensado para os seus botões há uns meses. Nunca vai saber.
Contudo, preferiu desistir. Cansou-se de acreditar em alguém que nunca acreditou em nada.
O problema foi ficar sem perceber até que ponto é que fez bem em desistir, como se fosse a coisa mais fácil do mundo, quando a única razão para ter desistido fora ela mesma, e mais ninguém.
O mundo e a opinião dos outros, no que toca a estes assuntos, nunca a perturbaram. A principal preocupação, era ela mesma. Inês tinha medo de se perder e de ficar gasta e velha, com mais rugas, por procurar demais onde já não havia nada se não um buraco velho e escuro. Como se fosse prevenir isso tudo, disse-lhe que ia desistir. E desistiu mesmo. Mas não foi para sempre, nunca é para sempre.
E se ele continuou na vida dela, como se nunca tivessem tido vontade de estar juntos nem nunca nada disso lhes passasse pela cabeça, foi porque quis. A Inês deu-lhe essa liberdade, ou parte dela... Restava saber até quando é que a sensação que tinha ao vê-lo ali tão perto, como estranhos, ia durar. Se durasse muito mais tempo do que esperava, tinha de facto cometido o maior erro da sua vida, porque desistiu do que queria para si. E o que é bom para nós, deve ser aproveitado.
Agora, para seu azar, estava com ele em todo o lado: de manhã na cozinha, à tarde na sala, à noite no jardim e até na casa de banho...Ele estava em todo o lado.
Mas além de estar com ela no dia-a-dia, pior era quando a Inês adormecia...Lá estava ele, gabarolas, convencido, agarrado ao seu casaco azul que não largava nem por nada deste mundo, sentado ali como que a provocar e a incentivar a Inês a correr para os seus braços.
- Tira as mãozinhas dos meus sonhos!!! - pensou Inês.
- Tira as mãozinhas dos meus sonhos!!! - pensou Inês.
Melhor seria mesmo acreditar que nada acontece por acaso e que depois de muitos meses ia olhar para trás e perceber que se ele não quis a sua mão, o seu braço e cada pedacinho seu, foi porque ela também não merecia que fosse ele o escolhido e galardoado a ter esse privilégio.
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