10/01/2011

Um dia, que não foi como outro qualquer

Saiu à rua para ir respirar e espairecer.
 Estava fechada em casa há horas sem saber o que fazer, tinha acordado na esperança de ter um dia melhor e ficar em casa não fazia parte dos seus planos. Decidiu descer as escadas do prédio e ir apé até onde conseguisse. 
Não queria saber do metro, do autocarro, do carro ou do táxi.
 Hoje estava por conta dela. Mal pisou a calçada da rua, aproveitou para respirar fundo, tão fundo que até lhe doeu por há muito não o fazer. Queria livrar-se de tudo o que a pudesse chatear, de tudo o que fosse complicado, o que lhe lembrasse coisas más e do passado. 
Estava ali para se conhecer melhor. Foi andando, passando por lojas, por cafés, por ruas e ruas, onde haviam grupos de pessoas de todas as idades, uns contentes, outros carrancudos, uns gastos pela vida, outros nem tanto.
 Apercebeu-se de que á volta dela estava um mundo inteiro, o barulho dos carros e das pessoas entravam-lhe nos ouvidos e subiam-lhe a cabeça muito rápido mas nem isso hoje a podia chatear. Queria perceber o que é que era sozinha, queria conhecer-se melhor, definir-se. Nunca o tinha feito, porque isso não é fácil. É preciso tempo. Tempo e solidão.
Foi até ao parque mais próximo e sentou-se a olhar para as crianças a brincar, para os miúdos a andar de skate, de bicicleta e de baloiço. Ficou ali durante horas.
 Apercebeu-se de que era tudo muito grande para ela. Não se conseguia definir, só conseguia definir o que os outros eram para ela. Estava assustada. Não queria ser mais controlada por esse mundo gigante que a fazia sentir-se mais pequenina. Porque é que até hoje nunca tinha olhado para si mesma? Nunca soube explicar. Sentia falta dela mesma sem se conhecer.
 Decidiu ouvir música, já deitada no banco, a olhar para o céu na esperança de se encontrar. A música só a fez lembrar outras pessoas, momentos que tinha passado, risos e abraços de que tinha saudades. Não era esse o objectivo. Mas foi assim que a sua cabeça mandou.
Depois de ouvir todas as músicas que desejava, decidiu voltar para casa. No caminho, que demorou bem mais do que a sua ida até ali, teve tempo para pensar nela e em tudo o que quisesse. Ninguém a estava a chatear. Só as pessoas que também por ali andavam. Todas com má cara. 
Ela sorria e ninguém correspondia. Pensou que estava a fazer figura de parva, só lhe apetecia rir porque por alguma razão aquelas pessoas a faziam rir, nem que fosse só porque uma tinha uns tennis giros, outra uma cara simpática, e outro nem tanto. Mas ninguém se ria com ela. Riu-se consigo mesma. 
E quando chegou a casa, antes de subir as escadas, respirou fundo, mais fundo do que a última vez que o tinha feito, e percebeu que só ela, mesmo sem se conhecer, se conhecia.

Sem comentários:

Enviar um comentário