28/09/2015

Passei metade da minha vida - e por metade da minha vida entenda-se que me refiro aos meus 23 anos, mas como não me lembro de tudo o que fiz desde que nasci, vou ter que me cingir à adolescência - a acreditar que o mundo era bom, que as pessoas eram boas, e que a minha felicidade dependia da felicidade de todos os outros, porque provavelmente todos estariam mais felizes e aí é que eu iria encontrar e arrancar todos os meus sorrisos. Os outros e as outras coisas, as variáveis indefinidas como o tempo, se faz sol ou faz frio, o mau ou bom acordar, a noite bem ou mal dormida, ou amigo ou inimigo, saber amar ou ser mal amado, gostarem de mim ou não gostarem. O medo de não ser suficiente vinha comigo já desde o 1º ano, nas aulas em que me chamavam ao quadro e eu me sentia consumida com os olhares dos outros, como se não fosse capaz de estar ali com a mesma coragem que eles. Sempre os outros. A minha felicidade dependia da aceitação dos outros. Ver os meus avós, os meus pais, os meus irmãos e todos os meus amigos à minha volta a rir, a divertirem-se comigo, fazia os meus dias, as minhas noites, trazia-me a sensação de realização pessoal. O mal de depender, se é que lhe posso chamar dependência, de todos os outros para encontrar o nosso equilíbrio, é que quando nos deixam, a balança parte-se ao meio, perde-se o chão, perde-se tudo. O mal de depender dos outros, é vermo-nos forçados a que, por via das vicissitudes da vida, nos sintamos sempre sozinhos, porque, ninguém nos dá o que precisamos, e no fim de contas, é em nós que está tudo. O mal de depender dos outros, é que quando desaparecem todos, ficamos só nós. Isso dói. E parece que isso vai acontecendo em paralelo com o nosso crescimento, e que se calhar, é isto mesmo que é crescer: aprender a sermos só nós, por nós, para nós. Preferia ter aprendido de outras maneiras que não estas, preferia ter percebido mais cedo que de cor-de-rosa este mundo tem muito pouco. Preferia ter sido mais autónoma, mais feliz comigo própria. Agora sou, vou sendo, agora vou conseguindo. Mas só porque a vida me obrigou a isso, mas só porque a balança se partiu e eu tenho que encontrar o prato para a equilibrar sozinha. Mas só porque, se foram todos embora e resto eu.
Um beijinho especial ao meu Avô Santos, pai do meu pai que hoje foi embora. E ao meu Pai que eu amo.

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