"Se
eu não falasse de ti com os meus botões era sinal de que não te tinhas tornado
mais do que és, nem menos do que és. Mas, e isso pode-se confirmar através de
fontes seguras, eu tenho a tendência de agarrar avalanches de ideias e
deixar-me ir até me aperceber que tenho um problema maior que os outros: não
sei separar a cabeça do coração. Estes, bem distintos fisicamente, também têm
funcões muito diferentes. Só que comigo baralham-se como uma receita de um bolo
em que os ovos e a farinha são amassados e confundidos por entre os dedos de
alguém. Não me queria deixar confundir e tornar-me vulnerável aos teus dedos,
mas acabei por fazê-lo, quase de olhos fechados (ou sempre, enquanto dormia
enrroscada nas almofadas).Apercebi-me
de que afinal não sou feita de uma fibra assim tão forte e que se calhar devia
pôr de lado tudo isto e deixar o coração ter vida própria sem enviar sinais
para a minha bolha racional. E que o principal problema é tu seres a
leveza do meu ser e o que torna tudo isto insustentável. E
enquanto não imbirrar por seres tu, vou ficar colada à pagina que não consigo
virar, porque um dos geradores de vida que acima referi ainda não me permitiu."
sem título, 2010
"A manhã
chegou aos lençóis que a rodeavam e o frio que tinha nos pés não ajudou a
aperceber-se que o tinha ali, deitado, nu, livre, ao seu lado. A cabeça
tinha congelado umas horas antes e por mais que tentasse reconhece-lo, o seu
ego lembrava-a de que alguém a teria levado para outro lugar que não aquele e
que nem sequer o braço que a rodeava e tocava nas ancas a fazia sentir-se
melhor. Não era medo, não era a diferença nem o passar dos anos que tinham
tornado tudo aquilo incontornável.
Manhãs
seguintes já tinham sido muitas, e sim, esta noite teria sido muito mais
interessante se no dia a seguir não tivessem que olhar um para o outro e
lembrarem-se de tudo. Mas teria
sido a indiferença que a tornara uma pessoa tão fria, tão desprendida ao ponto
de se preferir a si mesma? Era demasiado egoísmo, daquele puro e duro.
Pediu para
as horas passarem e poder ir embora, sem dar justificações a ninguém. Nem a ela
mesma. E pensar que queria tanto isto há uns meses atrás."
"Pequeno-almoço indesejado", 2011
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