13/04/2013

Folhas de um caderno escondido no armário

"Se eu não falasse de ti com os meus botões era sinal de que não te tinhas tornado mais do que és, nem menos do que és. Mas, e isso pode-se confirmar através de fontes seguras, eu tenho a tendência de agarrar avalanches de ideias e deixar-me ir até me aperceber que tenho um problema maior que os outros: não sei separar a cabeça do coração. Estes, bem distintos fisicamente, também têm funcões muito diferentes. Só que comigo baralham-se como uma receita de um bolo em que os ovos e a farinha são amassados e confundidos por entre os dedos de alguém. Não me queria deixar confundir e tornar-me vulnerável aos teus dedos, mas acabei por fazê-lo, quase de olhos fechados (ou sempre, enquanto dormia enrroscada nas almofadas).Apercebi-me de que afinal não sou feita de uma fibra assim tão forte e que se calhar devia pôr de lado tudo isto e deixar o coração ter vida própria sem enviar sinais para a minha bolha racional. E que o principal problema é tu seres a leveza do meu ser e o que torna tudo isto insustentável. E enquanto não imbirrar por seres tu, vou ficar colada à pagina que não consigo virar, porque um dos geradores de vida que acima referi ainda não me permitiu."
                                                                                                                           sem título, 2010


 
"A manhã chegou aos lençóis que a rodeavam e o frio que tinha nos pés não ajudou a aperceber-se que o tinha ali, deitado, nu, livre, ao seu lado. A cabeça tinha congelado umas horas antes e por mais que tentasse reconhece-lo, o seu ego lembrava-a de que alguém a teria levado para outro lugar que não aquele e que nem sequer o braço que a rodeava e tocava nas ancas a fazia sentir-se melhor. Não era medo, não era a diferença nem o passar dos anos que tinham tornado tudo aquilo incontornável.
Manhãs seguintes já tinham sido muitas, e sim, esta noite teria sido muito mais interessante se no dia a seguir não tivessem que olhar um para o outro e lembrarem-se de tudo. Mas teria sido a indiferença que a tornara uma pessoa tão fria, tão desprendida ao ponto de se preferir a si mesma? Era demasiado egoísmo, daquele puro e duro. 
Pediu para as horas passarem e poder ir embora, sem dar justificações a ninguém. Nem a ela mesma. E pensar que queria tanto isto há uns meses atrás."
                                                                                                        "Pequeno-almoço indesejado", 2011 

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